sábado, 21 de novembro de 2009

Identificação de vítimas deixa marcas

Antropóloga forense encontra-se na Guiné-Bissau para identificar militares portugueses mortos na Guerra Colonial. É a quarta missão neste país.

Eugénia Cunha encontra-se no Sul da Guiné-Bissau para identificar pelo menos 11 militares portugueses através dos restos mortais. Morreram há mais de 40 anos, na Guerra Colonial, o que dificulta todo o processo. Dificuldades de ordem técnica e emocional. "São rapazes novos, penso como seria se os meus filhos tivessem vivido nesse tempo. Deixa marcas", diz a cientista.

Chefia uma equipa de três antropólogos forenses que chegou uma semana depois dos elementos da Liga dos Combatentes e que avançaram em primeiro lugar para preparar o terreno. Localizaram os corpos e prepararam-nos para a análise do esqueleto. Posteriormente, a informação obtida será comparada com os dados dos militares que ali morreram.

"A identificação é sempre um processo comparativo. Ou temos uma lista muito boa de dados ou, então, por muito boa que seja a antropologia forense, é impossível", explica Eugénia Cunha.

Não têm mais nada para analisar além dos ossos, alguns dos quais já estão misturados com elementos do meio ambiente. A missão termina no dia 28.

Esta é a quarta missão levada a cabo naquele país, tendo sido identificados 55 corpos, segundo o general Chito Rodrigues, presidente da Liga. Poucos são reclamados para virem para Portugal, até porque o processo de trasladação fica a cargo dos familiares.

Mas o objectivo principal da missão, no âmbito do Programa Conservação de Memórias, é transferir os restos mortais dos militares portugueses para o talhão português no cemitério de Bissau. "Não estamos interessados em abrir feridas. Estamos a exumar os corpos para os poder trasladar para um lugar que dignifique a sua memória", justifica Chito Rodrigues.

Aquele programa, iniciado em 2008, tem o apoio do Estado português e pretende, também, recuperar os corpos de militares que jazem em Moçambique, Cabo-Verde e São Tomé e Príncipe, países com que a Liga tem acordos de cooperação nesse sentido.

As estimativas oficiais indicam que quatro militares foram sepultados nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) durante a Guerra Colonial. Destes só 1300 são naturais de Portugal.

E é em Angola que Eugénia Cunha regista um outro trabalho que mais a marcou. Foi a identificação de vítimas (morreram 18 pessoas) do massacre de Ambriz, em 2001, incluindo dos menores, depois de se ter suspeitado da troca de corpos.

É licenciada em Biologia e doutorada em Antropologia Forense pela Universidade de Coimbra.

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