quarta-feira, 26 de maio de 2010

Dupla agressão à estudante (Diário de Pernanbuco)

Dupla agressão à estudanteParaíba // Aluna africana foi xingada e agredida por aluno na UFPB e delegada minimizou o caso
Priscylla Meira // priscyllameira.pb@dabr.com.br


Brasília - As declarações da delegada Juvanira Holanda, que disse que chamar alguém "negro safado" ou fazer determinados gestos obscenos não caracterizam necessariamente crimes de racismo e atentado ao pudor, provocaram um turbilhão no caso da estudante africana agredida na última segunda-feira, no Campus V da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

A delegada titular da 4ª Delegacia Distrital da Capital disse que o caso sobre a agressão à estudante de Guiné-Bissau, Cadidjatu Cassama, as pessoas envolvidas exageraram nas acusações. "Eu entendo o lado dela, que está longe da família e de seu país, mas houve um certo exagero. A agressão aconteceu, mas não foi nada muito sério", disse a delegada Juvanira Holanda sobre os chutes que a estudante levou na altura do estômago e que a fizeram ser internada no Hospital de Emergência e Trauma.

O presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos do Homem da Paraíba (CEDDHC-PB) e procurador da República, Duciran Van Marsen Farena, declarou ontem que o caso trata-se de um exemplo de discriminação racial. "Dizer que não há racismo em chamar o outro de 'negro cão' ou 'negro safado' mostra desconhecimento da lei", disse.

Juvanira disse que o acusado, o vendedor de cartões de crédito Vagner Silva, não deverá ser condenado pelo crime de racismo, mesmo após testemunhas afirmarem que o rapaz gritou frases do tipo "pega essa negra cão" pelo corredor da UFPB, quando Cadidjatu correu atrás dele revoltada pelas ofensas que tinha sofrido.

Segundo a delegada, o rapaz teria alisado com um dedo a palma da mão da estudante enquanto lhe dava um aperto de mão. Após alguns amigos explicarem à moça que o gesto, no Brasil, significa espécie de convite para praticar relações sexuais, Cadidja teria voltado para tomar satisfações e exigir que o vendedor lhe respeitasse. Apesar do gesto, a delegada disse que a atitude de Cadidja foi exagerada e que o fato tomou proporções desnecessárias. "Se eu fosse bater em cada pessoa que já fez esse tipo de gesto pra mim, eu já teria batido num monte", disparou a delegada. A estudante disse que o vendedor a assediou fazendo gestos obscenos e a agressão aconteceu quando ela exigiu que ela a respeitasse.

Sem comentários:

Enviar um comentário