quarta-feira, 19 de maio de 2010

Guiné-Bissau atravessa um período de grande indefinição

Sete semanas depois da movimentação militar que atirou para a cadeia o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, almirante Zamora Induta, a Guiné-Bissau continua a atravessar um período de indefinição.

Há muito que se espera que o Presidente Malam Bacai Sanhá e o Governo de Carlos Gomes Júnior decidam se Induta regressa às suas funções ou se fica suspenso, nomeando-se outra pessoa para o lugar. E, na prática, quem se apresenta agora na mó de cima são os responsáveis pelo levantamento de 1 de Abril: general António Indjai, que era o vice-chefe do Estado-Maior, e contra-almirante Bubo Na Tchuto, antigo chefe do Estado-Maior da Armada, acusado pelos Estados Unidos de envolvimento no narcotráfico que tem vindo a minar o país.

O primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, que naquela data chegou a ser sequestrado durante algumas horas pelos revoltosos, tem estado nas últimas semanas no estrangeiro, designadamente devido à alegada necessidade de assistência médica em Cuba. E admite-se que, após o regresso, não se consiga manter no cargo por muito mais tempo, dado que contra ele estão Indjai, Bubo Na Tchuto, o Partido da Renovação Social, de Kumba Ialá, e até mesmo sectores do próprio PAIGC, de que teoricamente é o presidente.

Enquanto isto, a Liga Guineense dos Direitos Humanos condenou ontem firmemente o “acto brutal e vergonhoso” ocorrido sábado, quando o empresário Armando Dias e o seu condutor agrediram e ameaçaram de morte o director do “Diário de Bissau”, João de Barros. Na origem do episódio esteve o facto de ele ter escrito que o assassínio do Presidente João Bernardo “Nino” Vieira e de uma série de outras pessoas, nos últimos 15 meses, se ficou a dever ao narcotráfico por que o país é particularmente conhecido desde há cinco anos.

Diversos cartéis em luta
Num relatório recente da organização não-governamental Acção para o Desenvolvimento (AD) declara-se que “a luta fratricida pelo poder mostra o grau de violência dos diversos cartéis” que actuam na Guiné-Bissau e em outros países da mesma região de África.

Pensar-se que é com a tão falada reforma das Forças Armadas e de Segurança que se vai combater o narcotráfico é, no entender da AD, “ignorar a natureza da classe política e militar” guineense, “que nunca investiu em actividades produtivas”.

No entender dos autores deste relatório, a origem da instabilidade que mina o país está no facto de o tráfico de cocaína ter uma enorme capacidade para corromper toda a elite política e demais sectores da administração pública guineense.

Estima-se que naquela zona da África Ocidental o tráfico de cocaína latino-americana, a caminho da Europa, passou de uma tonelada em 2005 para 180 a 240 toneladas no ano passado, o mesmo em que foram assassinados “Nino” Vieira e o respectivo chefe do Estado-Maior, general Tagme Na Waie, além do antigo ministro Hélder Proença e do candidato presidencial Baciro Dabó.

Para além deste problema das drogas, o relatório da AD sobre a espiral de violência na Guiné-Bissau também refere que os governos têm hipotecado os recursos naturais do pequeno território a “empresas sem escrúpulos e ciosas de lucro fácil”.

A atribuição de blocos para a exploração de petróleo e de áreas para exploração de fosfatos e de bauxite, entre outras riquezas potenciais, tem vindo a ser feita por “políticos negociantes”, normalmente à revelia da Assembleia Nacional Popular, destaca aquela ONG.

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