terça-feira, 4 de maio de 2010

O difícil equilíbrio militar guineense



Bissau - Avanços e recuos marcam o jogo perigoso da relação António Indjai – Bubo Na Tchuto.

Estranheza, estupefacção e desconforto. É desta forma que a Comunidade Internacional e políticos guineenses classificam o à vontade com que Bubo Na Tchuto, classificado como narcotraficante pelo Departamento de Tesouro dos EUA e indiciado num processo de tentativa de Golpe de Estado contra o ex Presidente «Nino» Vieira, circula em Bissau e por toda a Guiné.

Desde a sua saída da sede da ONU em Bissau na manhã de 01 de Abril que Bubo Na Tchuto mantêm um dia a dia sem sobressaltos. Quer na sua luxuosa residência no Alto Bandim, quer nas deslocações ao interior do país para participação em cerimónias tradicionais, o ex-Chefe de Estado-Maior da Armada faz-se acompanhar de uma larga escolta de militares armados que garantem a sua segurança, providenciados pelo Estado-Maior.

Apesar de actualmente afastado da estrutura militar guineense, Bubo Na Tchuto continua a ser uma figura incontornável na hierarquia castrense e que inspira receio entre os guineenses. Não só pelo seu passado militar histórico e conotação com actividades ilícitas, mas também pela aparente conivência com que as mais altas figuras militares e da justiça guineense têm tratado este caso, apesar da forte pressão internacional.

António Indjai, o novo homem forte dos militares na Guiné-Bissau e responsável pela libertação de Bubo Na Tchuto a 01 de Abril, mantém-se até agora em silêncio perante a actual situação de impunidade. Fontes no Estado-Maior afirmam que Indjai pretenderá capitalizar junto da classe militar guineense a «benevolência» que tem mostrado para com Bubo. O apoio dos soldados e oficiais guineenses é essencial para num futuro próximo assegurar a sua nomeação como novo CEMGFA, ainda que para atingir este sonho possa ter de fazer perigosas cedências ao ex-CEMA.

Seguindo a máxima militar que se deve esperar pelo momento certo para atacar com certeza de vitória absoluta, Bubo Na Tchuto tem vindo a aproveitar todas as oportunidades que lhe têm sido concedidas para fortalecer a sua posição. Os fuzileiros que lhe prestam segurança estão a assumir-se cada vez mais como o embrião de uma unidade militar privada (à semelhança do que era a Marinha quando Bubo desempenhou as funções de CEMA), e as constantes deslocações ao interior do país estarão a servir para, de forma discreta, dar conta dos seus planos futuros junto dos seus elementos mais fiéis, recrutando novos aliados dispostos a apoiar a sua reconquista de poder.

António Indjai e Bubo Na Tchuto constituem-se actualmente como os verdadeiros pólos de poder na Guiné-Bissau, com diferentes interesses, ainda que actualmente coincidentes em vários pontos. No presente xadrez político-militar, entre as cedências de uns e a ambição de outros, ambos poderão constituir-se a curto prazo como as principais ameaças às instituições democraticamente eleitas na Guiné-Bissau, para além do perigo de implosão em caso da iminente cessação da convergência de interesses.

Rodrigo Nunes

(c) PNN Portuguese News Network

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