quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Acordo secreto permite a libertação de Zamora

 


O Presidente acredita que o ex-CEMGFA não é uma ameaça

Guiné-Bissau: Bissau - A libertação de Zamora Induta, confirmada na véspera de Natal, acontece três meses depois do Tribunal Militar de Bissau ter decidido pela ilegalidade da detenção do ex-CEMGFA. Zamora, detido desde as movimentações militares de 01 de Abril, prepara agora em liberdade a sua defesa das acusações feitas pelo líder dos revoltosos de Abril, António Indjai, que o implicam nos casos das mortes de 2009.

Na altura da decisão do Tribunal Militar, as chefias militares e o próprio Presidente Malam Bacai Sanhá terão recuado uma vez que consideraram não estarem reunidas as condições de segurança que permitissem a libertação de Zamora Induta. No entanto, durante a noite de ontem, a residência de Zamora Induta manteve-se sem qualquer aparato de segurança policial correndo em Bissau rumores de que esta libertação «era uma armadilha».


Se a questão da segurança se manteve inalterada, o que mudou então na Guiné Bissau nos últimos três meses? A nível político, o braço de ferro que caracteriza a relação entre o Presidente Malam e o Primeiro Ministro Carlos Gomes Júnior mantém-se inalterado. A recente nomeação como Ministro do Interior de Dinis Na Fantchamena, aliado de Malam e adversário declarado de Carlos Gomes, indiciam que terá existido um acordo secreto entre as duas principais figuras do poder político guineense. Em troca de manter o controlo sobre o importante Ministério que controla as secretas e as polícias guineenses, Malam terá abdicado de manter na prisão o ex-CEMGFA Zamora Induta.


A análise feita por Malam, em conjunto com os seus assessores e aliados militares, terá concluído que neste momento, com António Indjai e Bubo Na Tchuto à frente das Forças Armadas, poucas hipóteses existem de que Zamora se possa constituir como uma ameaça ao poder vigente. Tanto Indjai como Bubo foram no passado pressionados por Zamora Induta, que via nas ligações ao narcotráfico dos dois chefes militares uma porta aberta à destabilização da Guiné-Bissau.


Zamora, que na página oficial das Forças Armadas da Guiné Bissau ainda aparece como o CEMGFA em funções, sofreu ao longo dos oito meses de detenção vários problemas de saúde. Dessa forma equaciona-se em Bissau a sua saída para tratamentos médicos. O Senegal é o país que neste momento recolhe o maior consenso por parte de António Indjai, Bubo Na Tchuto e o próprio Presidente Malam, dadas as ligações privilegiados que este mantém com o Presidente Wade, tanto a nível pessoal como político e económico.


A par da libertação de Zamora Induta, outros militares detidos por alegado envolvimento nas mortes de Tagme Na Waie e «Nino» Vieira foram também soltos. Manuel Mina, fabricante da bomba que vitimou o ex-CEMGFA Tagme Na Waie, a militar «Pomba Branca» e Malam Candé, acusados de transporte e detonação do mesmo engenho explosivo, também já passaram a noite nas suas residências em Bissau.


A libertação conjunta de todos estes elementos está a causar receios na comunidade diplomática actualmente em Bissau. Se a libertação de Zamora Induta era exigida pela Comunidade Internacional desde a sua detenção em Abril por falta de provas que sustentassem a detenção, já os três militares responsáveis pela morte de Tagme Na Waie terão confessado a sua participação no assassinato. “A libertação do Mina e dos outros envolvidos é sinal de que o inquérito às mortes de 2009, a grande bandeira do Presidente Malam junto dos seus parceiros internacionais, vai cair por terra”, referiram com preocupação fontes diplomáticas em Bissau. «Com este acordo, Malam sacrificou a Justiça pela vantagem política no xadrez da Guiné-Bissau», referem.


Rodrigo Nunes

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