terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Wikileaks, versão guineense

Bissau - Após a libertação do ex-Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, Zamora Induta, e do ex-Chefe da Contra-inteligência militar, Samba Djaló, entre outros detidos alegadamente envolvidos nos assassinatos de 2009, a Guiné-Bissau é surpreendida com constantes fugas de informação na Internet que alegadamente reportam a testemunhos recolhidos na fase de inquérito dos polémicos processos.

Na última semana, um conhecido blog guineense resolveu assumir-se como a versão local do wikileaks, transcrevendo os autos de inquirição do Coronel Samba Djaló, Major Monha Aie, Vice-Comandante da Contra-inteligência Militar e do Tenente Almane Sano, da mesma estrutura militar.


A divulgação de informação de acesso muito restrito neste blog não é inédita, tendo no passado sido já publicados os documentos que continham o resultado do inquérito às mortes, o que originou uma série de protestos contra a Procuradoria-Geral da República, face à clara violação do segredo de justiça.


As responsabilidades permanecem por apurar, nunca tendo sido oficialmente desmentida, quer por parte de Amine Saad, quer por parte do destinatário da mensagem, Presidente Malam Bacai Sanha, a veracidade daquela comunicação. Esta assumiu proporções mais graves dado que meses antes o próprio Presidente, durante a primeira visita oficial a França, confirmou, em entrevista a uma conhecida revista de política internacional, o envolvimento de políticos no activo naqueles assassinatos.


Desta vez, as fugas de informação coincidem com a saída de Amine Saad do país para «tratamento médicos», prática recorrente por parte do actual Procurador-Geral. Por outro lado, a divulgação ocorre quando o destino dos recém-libertados permanece ainda incerto, sendo a sua saída do país uma eventualidade que ganha cada vez mais força.


Apesar das fugas de informação, o Ministério Público, em resposta a uma acção interposta pelos familiares das vítimas, afirmou não haver qualquer razão para considerar Zamora Induta ou Samba Djaló como arguidos, não podendo serem impedidos de sair do país. Desta forma, estas transcrições não parecem merecer por parte do Ministério Público guineense qualquer credibilidade, cuja investigação parece, na verdade, nunca ter saído da casa de partida. O perigo destas revelações é, tal como no caso do Wikileaks original, alimentar ódios e vinganças que outros procuram apaziguar através de acções como as reuniões da Comissão de Verdade e Reconciliação.

Rodrigo Nunes

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