quarta-feira, 11 de julho de 2012

COMUNICADO DAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS GUINEENSES


Reunidos no dia 07 de Julho do ano em curso, um grupo de Organizações Não-Governamentais (ONG) nacionais preocupadas com  o evoluir da situação política, económica e social pós-golpe de Estado de 12 de Abril, e na observância de um funcionamento anormal das instituições da república, volvidos trinta dias do exercício de governação em regime de transição,
constatou-se que o país tem sido encaminhado para uma situação de agravamento da segurança e na deterioração das precárias condições de acesso aos serviços e bens básicos para a garantia das necessidades.

É nesta base que  na continuidade dos posicionamentos anteriores,
alertamos todos os atores nacionais e internacionais denunciando os perigos de agravamento e derrapagem irreversível da situação de conflito que se vive atualmente na Guiné-Bissau, baseado nos seguintes atos:


1. Violação do espaço e ameaça  e à soberania nacional e das
instituições da república
: depois da utilização indevida da
Assembleia Nacional Popular por parte do Chefe de Estado Maior
General das Forças Armadas no passado mês de Junho do ano em
curso, agora foi a vez dos militares da CEDEAO, fortemente
armados e com carros de combate, terem cercado e penetrado no
interior da mesma edilidade,  no dia 06/07/2012, quando ainda
decorria uma sessão parlamentar, numa clara tentativa de ameaçar a liberdade de expressão. Esta atitude denuncia de uma forma
inequívoca o caracter ocupacionista e da tentativa de implantação de um clima de medo no debate público dos problemas nacionais;


2. A manutenção de uma situação de Estado de exceção, com a limitação dos direitos cívicos dos cidadãos, concretamente, os direitos à livre manifestação: mulheres manifestantes foram
impedidas de demonstrarem a sua insatisfação com a situação
política que o país vive, depois de quase três meses do golpe de
estado; Ainda se assiste a ameaças aos dirigentes políticos e civis que condenaram o golpe de estado e se recusam a reconhecer as
autoridades impostas pelos militares com a cumplicidade da
CEDAO, ilegalmente;

3. Inércia e pouca vontade no cumprimento dos compromissos da transição: uma das principais  metas acordada por todos os atores desta transição é a realização das eleições. Até à data nenhum passo objetivo e consequente foi dado neste sentido. Primeiro, relativamente ao recenseamento biométrico; até agora não se verificou nenhuma ação concreta com vista  à produção da  lei que enquadra este processo, concretamente a lei eleitoral e  não houve nenhum agendamento de discussão da mesma em todos os plenários da ANP; não obstante  isso, temos assistido a uma desenfreada corrida e partidarização da administração pública, através de nomeações semanais de diretores-gerais, sem critérios de rigor, contribuindo para a colocação de indivíduos sem mérito e  sem competência e numa transgressão completa dos esforços da reforma no sector, introduzindo indivíduos sem nenhuma experiência e que nunca estiveram na administração pública;


4. Utilização indevida do erário público e ausência de fiscalização dos recursos naturais:  vem-se  constatando o recurso aos fundos públicos sem nenhuma provisão  e sem seguir as normas de administração pública por parte de agentes não mandatados para o efeito, prática que demonstra uma clara violação dos cofres de Estado e sinónimo de corrupção;  as tentativas diárias de levantamento abusivo de somas elevadas no Ministério das Finanças; tendo-se também deparado com uma ausência de atividades de fiscalização da nossa zona económica  exclusiva de pesca, deixando os  nossos recursos haliêuticos à mercê dos barcos estrangeiros e simultaneamente o favorecimento do narcotráfico;


5. Revisão pela negativa do crescimento da economia nacional, aumento da inflação, aumento de pobreza e do desemprego: o golpe de 12 de Abril  teve um impacto forte na retração do crescimento para este ano projetado para 4,5% do PIB mas segundo o Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO) será de 2,8% devido a uma forte quebra na exportação de castanha de cajú, em cerca de 30 a 40% da produção nacional. Esta situação já está a ter impactos severos no que concerne à campanha agrícola e aumento do preço dos bens de primeira  necessidade nas principais cidades do país. Por outro lado, tem-se registado perdas de emprego no sector dos serviços, em particular da hotelaria, turismo e construções, em que alguns  empreendimentos  estão a reduzir o seu pessoal para metade e outros já anunciaram o encerramento devido à falta de clientes;
Pelo que o grupo de ONG signatárias delibera:


a) Alertar todos os atores, às populações, a opinião pública em geral e a Comunidade Internacional, que os perigos da derrapagem continuam presentes  e poderão agravar-se com consequências imprevisíveis, como o risco da fome;

b) Alerta e responsabiliza as autoridades de transição pelos riscos  de conflito social, caso os militares não regressem de facto para os
quarteis, caso a CEDEAO  em vez de  proteger os civis  prefira
ameaçar a soberania, caso a principal missão do governo transitório
não seja cumprida, ou seja, a realização de eleições livres,
democráticas e justas.

As ONGs signatárias:


- Ação para o Desenvolvimento (AD)
- Associação Guineense de Estudos e Alternativas (ALTERNAG)
- Confederação Camponesa KAFO
- Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH)
- TINIGUENA - Esta Terra é Nossa

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