quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Bissau: há «indícios» do envolvimento de Portugal, segundo diz Governo Transitório

Governo transitório? da Guiné-Bissau diz que continua à espera de explicações do Governo português

O Governo de transição da Guiné-Bissau considera haver «indícios» de que Portugal está envolvido no assalto do passado domingo a um quartel militar em Bissau e espera explicações do Governo de Lisboa sobre o assunto.


«Não acusamos, só colocamos questões e queremos respostas. Que o senhor Paulo Portas esclareça que Portugal não está por detrás e que nos explique como é que um asilado político em Portugal, sob custódia de Portugal, aparece na Guiné a fazer uma tentativa de tomada de um quartel», disse, em entrevista à Lusa, o porta-voz do Governo, Fernando Vaz.


Um grupo alegadamente comandado pelo capitão Pansau N¿Tchama, um militar que estaria em Portugal, onde tinha pedido asilo político, tentou assaltar um quartel militar na madrugada de domingo, uma ação da qual resultaram seis mortes, segundo o Governo de transição.


O executivo de transição da Guiné-Bissau, no mesmo dia, apontou o dedo a Portugal, à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e a Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro deposto no golpe de Estado de 12 de abril e atualmente a residir em Portugal.

Fernando Vaz, ministro da Presidência do Conselho de Ministros e porta-voz do Governo, reiterou as acusações, afirmando: «Há indícios de Portugal estar por detrás, porque a pessoa que comandou a operação é um asilado político em Portugal, que pede asilo político e lhe é concedido, e que aparece na Guiné a comandar uma tentativa de assalto a um quartel. Temos de perguntar a Portugal e temos de responsabilizar Portugal».


A agência Lusa questionou o Governo português sobre a presença em Portugal de Pansau N¿Tchama e em que qualidade, e se saiu de Portugal com conhecimento das autoridades. Não obteve resposta, «por questões de confidencialidade».


No entender de Fernando Vaz, a tónica do discurso da CPLP, de Portugal e de Carlos Gomes Júnior tem sido a favor de uma intervenção militar «e a resolução do problema (da Guiné-Bissau) pela via da violência. Ao acontecer esta perspetiva de resolução pela violência, entendemos que as pessoas que fomentaram isso têm culpas», salientou Fernando Vaznas declarações à Lusa.


Portugal, disse o responsável, «devia ter um papel diferente, fulcral, como mediador e como antiga potência colonial», mas, ao contrário, «reduziu-se completamente a zero».


O Governo português apelou esta semana ao diálogo a propósito do caso de domingo, algo que segundo Fernando Vaz o Governo de Bissau ouviu com agrado. «Mas como é que Portugal defende a via do diálogo se não reconhece este Governo? Vai dialogar com quem? Só com a parte que reconhece! É um bocadinho de hipocrisia», rematou o ministro.


Sobre os acontecimentos de domingo, Fernando Vaz disse à Lusa que Pansau N¿Tchama tinha um cúmplice na porta de armas do quartel, no qual chegou a entrar e de onde telefonou ao comandante, intimando-o a render-se, depois de ter dominado o oficial de dia e outros militares.


Sobre o espancamento de dois políticos na segunda-feira, o responsável reiterou que o governo não «tinha nada a ver com isso», que condenava a ação e que tinha feito diligências de imediato junto da cúpula das Forças Armadas para que os culpados sejam encontrados e punidos.


«Se os descobrirem, garanto que não sairão impunes destes atos», disse Fernando Vaz, garantindo também que não houve ordens do Estado-Maior das Forças Armadas.

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