quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Diálogo com o líder do golpe Militar António Indjai (RevistaTIME)

Image: Guinea Bissau's army chief of staff Antonio Indjai sits after a news conference at military headquarters in the capital Bissau, March 19, 2012.

O chefe de Estado Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, António Indjai, advertiu, em entrevista à revista "Time" divulgada hoje, contra o regresso ao país do primeiro-ministro deposto, Carlos Gomes Júnior.

António Indjai afirmou que se Carlos Gomes Júnior regressar à Guiné-Bissau, isso será da sua própria responsabilidade e das Nações Unidas.

O chefe das forças armadas guineenses defendeu também que devia ter sido o Presidente de transição, Serifo Nhamadjo, a discursar na Assembleia-geral das Nações Unidas, porque "é o mandatário do povo neste momento", e acusou as Nações Unidas de poderem levar o país a uma "guerra civil" ao apoiarem "os que perderam o poder".

Questionado sobre as declarações do diretor da agência da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC), Yuri Fedotov, de que houve um aumento de trânsito de droga pela Guiné-Bissau, António Indjai pediu que fosse provado onde desembarcou droga e onde se vendeu depois de 12 de abril, acusando o representante da ONU no país, Joseph Mutaboba, de ser o autor dessas informações e de ser "um bandido".

"Se fosse governo considerava-o persona non grata e dava-lhe 24 horas para sair do país", disse na entrevista, hoje difundida em Bissau, nomeadamente pela Rádio Nacional.

Na mesma linha, pediu também provas aos "bandidos" que dizem que ele mesmo está envolvido no tráfico de drogas.

"Como eu me recusei a obedecer ao Cadogo (Carlos Gomes Júnior) estão a ligar-me com a droga. Que mostrem a prova. Se tivesse meios queixava-me no tribunal internacional das pessoas que dizem isso", disse.

Sobre o assassinato de Nino Vieira, antigo Presidente do país, disse não saber nada sobre quem esteve envolvido e adiantou, quando questionado se ele mesmo não estava implicado, que na altura nem era chefe de Estado mas sim comandante no interior do país. "Perguntem ao Cadogo, ele é que era o primeiro-ministro", disse.

Sobre um hipotético envio de uma força multinacional para a Guiné-Bissau, António Indjai salientou que o mundo não se deve preocupar em enviar tropas para o país mas sim preocupar-se com países como o Mali ou a Síria.

"Aqui não há guerra, será que a Síria não faz parte da ONU? O Mali não faz parte? Porque é que a ONU não se preocupa com esses países que estão em guerra?", questionou, perguntando mesmo aos jornalistas o que procuram na Guiné-Bissau, se já viram cadáveres na rua ou se houve confrontos ou tiros em algum local do país, aconselhando-os depois a irem para o Mali.

Afirmando que as relações com as autoridades de transição são positivas, e que com os Estados Unidos também, António Indjai criticou principalmente as Nações Unidas, que criam problemas no país e que impedem a criação de condições para se fazer eleições.

"Pensamos que bastava que o Cadogo ficasse lá fora sossegado para podermos fazer" (eleições), disse, acusando o primeiro-ministro deposto de ter "um governo colonial" e "dos tugas".

António Indjai reconheceu ainda que o golpe de Estado de 12 de abril abortou a democracia, disse que golpes de Estado não têm lugar no mundo atual, mas justificou-o dizendo que não havia "outra saída".

Mas, acrescentou, apenas Raimundo Pereira (Presidente interino) e Carlos Gomes Júnior foram presos, e também não morreu ninguém, "só um cão".

Na verdade, disse, os militares não fizeram um golpe de Estado mas sim "um contragolpe", por causa de Angola e de Carlos Gomes Júnior. Angola, justificou, estava a colocar armas na Guiné-Bissau, e Carlos Gomes Júnior "ia trazer forças das Nações Unidas" para atacar as forças armadas da Guiné-Bissau.

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