sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Tentativa para desmistificar o caráter religioso da excisão

Conferência reúne este mês em Bissau sacerdotes muçulmanos locais e especialistas estrangeiros em matéria de leis e tradições islâmicas, para debater a prática da excisão.

"Promover o abandono da mutilação genital feminina, difundindo a ideia de que esta prática é uma tradição prejudicial à saúde da mulher e não tem fundamento religioso, é o principal objetivo de uma conferência que reúne este mês em Bissau sacerdotes muçulmanos locais e especialistas estrangeiros em matéria de leis e tradições islâmicas"

A conferência é uma iniciativa conjunta do Conselho Superior dos Assuntos Islâmicos (CSAI) da Guiné-Bissau e da organização não-governamental alemã Serviço Mundial para a Paz (WFD), com o apoio da Target, outra ONG alemã empenhada na luta contra a excisão feminina em várias partes do mundo muçulmano.

Fundada pelo casal Rüdiger Nehberg e Annette Weber, a Target criou também a Aliança Pró-Islâmica contra a Mutilação Genital Feminina (MGF), entidade que organizou em novembro de 2006, no Cairo, uma conferência internacional de intelectuais islâmicos para debater e lutar contra a circuncisão feminina, de que já foram vítimas mais de 150 milhões de mulheres.

A conferência da capital egípcia, realizada na prestigiada Universidade Al-Ahzar, juntou autoridades religiosas, jurisconsultas, médicos e associações de defesa dos direitos humanos de África e da Europa, e terminou pela adoção do chamado «Livro de Ouro», contendo a súmula das conclusões da conferência cairota, e que recomendou a proibição da MGF, devido aos danos físicos e mentais provocados às mulheres.

Contudo, o raciocínio mais significativo, resultante da reunião, foi que a excisão feminina não é uma prática religiosa imposta pelo Alcorão, e que nenhuma das outras fontes jurídicas do Islão faz qualquer referência a este ato. Os participantes determinaram inclusive que a MGF é uma violação grave dos valores do Islão, que assimilaram ao haram, isto é, ao pecado, quebrando assim um tabu milenar. Nesta perspetiva, a conferência aprovou uma fátua – sentença religiosa com força de orientação legal – que teve o apoio público do grande mufti do Egito, a mais alta autoridade em matéria de direito islâmico, retomada por muitos países do mundo muçulmano onde subsiste a MGF.

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