quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Artigo: (Tensões internas em reavivamento)

1 . A situação político-militar na Guiné-Bissau apresenta sinais de anuviamento descrito num (intelligence memo) como “extremado”.
 
A saber:
 
- O alferes Júlio Mambali, comandante da guarda do CEMGFA, General António Indjai, foi coercivamente afastado; vários outros oficiais e efectivos subalternos da força foram também afastados e/ou presos.
 
- O relacionamento de per se tenso entre o Presidente de transição, Serifo Nhamadjo, e o CEMGFa, António Indjai, passou por novos episódios demonstrativos do seu carácter precário.
 
- O PM, Rui Barros, e o Governo em geral denotam estar “alinhados” com António Indjai no conflito que opõe este ao Presidente.
 
- Proliferam notícias de casos de corrupção, abusos de poder e de impreparação geral de vários governantes.
 
- As condições de vida nos quartéis, em especial nos aspectos da alimentação e acomodação, atingiram níveis considerados “insuportáveis”.
 
O cenário de uma ruptura violenta da situação não é, porém, admitido em meios que acompanham a sua evolução. O factor tido em conta na estimativa é o de que o poder militar da CEDEAO/Ecomig, instalado e mobilizável, tem capacidade de dissuasão suficiente para desencorajar um “putsch” – embaraçoso para a organização.
 
2 .
A cumplicidade existente entre o Governo e o CEMG é especialmente fomentada por percepções dos próprios de que a evolução em que a situação entrou, tende a marginalizá-los. Entre os factores determinantes da referida evolução é especialmente valorizado o interesse da CEDEAO, em “alijar um ónus a que se expôs”.
 
A CEDEAO precisa, por razões políticas e financeiras, que a comunidade internacional atenue ou levante o isolamento em que mantém a Guiné-Bissau desde o golpe de Estado de 12 de Abril de 2012. Foi com essa intenção que “encorajou” desenvolvimentos como a reposição da Assembleia Nacional e a vinculação do PAIGC ao processo transição.
 
De acordo com o leitmotiv da CEDEAO, que enquanto tal e/ou através de membros influentes, teve um papel instigador no golpe de Estado, a sua intervenção na Guiné-Bissau deve ter um “fim honroso”. Na sua perspectiva, tal desígnio será alcançado com a realização de eleições credíveis com o início do processo de reforma das FA.
 
António Indjai está ele próprio ciente de que se converteu num “embaraço” para a CEDEAO, devido a traços/tendências de personalidade e conduta, assim como impreparação técnica. Entre os próprios governantes, em geral, há igualmente a percepção de que tenderão a ser preteridos, de modo a remover obstáculos como a sua má reputação.
 
O descrédito de António Indjai junto da CEDEAO tornou-se irreversível por efeito directo da de um motim interno que “montou” com o fim inferido de se apresentar como vítima e como garante da coesão das FA. A “montagem” foi geralmente considerada “inábil”.
 
3 . O afastamento e prisão de Júlio Mambali (presentemente em greve de fome) ocorreu em circunstâncias consideradas elucidativas das extremas preocupações de segurança que dominam António Indjai – em larga escala alimentadas pela noção que o próprio tem de tensões internas, nas FA e no país, que fazem dele “um alvo”.
 
O ex-comandante, por uma razão a que terá atribuído urgência, apresentou-se a António Indjai sem se sujeitar a normas/procedimentos que implicariam a sua passagem por um núcleo próximo da segurança interna do mesmo. António Indjai associou instintivamente a atitude a intenções menos claras em relação à integridade da sua pessoa e agiu em conformidade.
 
A guarda de António Indjai, internamente conhecida por “pretoriana”, monta guarda permanente a todos os locais que o mesmo frequenta, por rotina ou ocasionalmente. Residências de pernoita, quartéis e locais públicos. Manobra apoiada pela chamada Contra Inteligência (TenCor Tchipa), cuja função primacial é vigiar suspeitos.
 
4 . António Indjai revela desde há muito uma atitude de menosprezo e/ou de falta de respeito em relação a Serifo Nhamadjo. O fenómeno é atribuído à sua diminuta ilustração, a uma ideia onírica que tem de si próprio, assim como a tendências inatas que revela para a prepotência.
 
Os novos episódios:
 
- António Indjai mandou um emissário convocar Serifo Nhamadjo para um encontro urgente com ele, na sua casa em Jugudul. Nhamadjo, que se encontrava então de visita a Bafatá, recusou a convocatória – a que António Indjai reagiu com truculência pública.
 
- Tratou de forma furibunda Serifo Nhamadjo num momento em que este se preparava para embarcar para uma viagem a Abidjan, cimeira da CEDEAO; episódio notado pelos circunstantes em geral.

 

Fonte : Blogue Ditadura do Consenso

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