segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Hortas escolares na Guiné-Bissau mudam hábitos alimentares e combatem desnutrição

Crianças que nunca tinham comido uma sopa ou salada ganharam o hábito de ter legumes à mesa graças a um programa que criou 167 hortas escolares na Guiné-Bissau, de acordo com o relatório final do projeto.

O projeto de combate à desnutrição infantil durou três anos e meio e o relatório final mostra resultados muito positivos, disse hoje à agência Lusa o encarregado da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), Rui Fonseca.

De acordo com o documento, 2.033 casos de desnutrição aguda grave (DAG) foram tratados nas áreas de intervenção do projeto e centenas de pessoas receberam informação que pode ser valiosa na mudança das ementas tradicionais.

"Foi possível mudar os hábitos alimentares de crianças que nunca tinham comido uma sopa ou salada" e que por isso sofriam de problemas de saúde relacionados com a desnutrição, explicou Rui Fonseca.

O projeto arrancou com o objetivo inicial de criar 150 hortas, "mas houve 17 a mais, o que mostra o interesse da população".

Com o envolvimento das mães, parte do produto "é preparado dentro das escolas para complementar a alimentação baseada em cereais", enquanto outra parcela é vendida para comprar sementes e garantir a sustentabilidade das hortas.

Os desequilíbrios alimentares na Guiné-Bissau residem numa dieta tradicionalmente baseada no arroz e são agravados pela pobreza e pelas dificuldades de venda de caju, principal produto de exportação e fonte de rendimento nas zonas rurais.

O relatório final sugere que, terminado o programa, haja "inspetores a impulsionar os diretores de escola" na continuidade das hortas, com inclusão dos respetivos trabalhos no currículo letivo.

"Uma das dificuldades que pode surgir é a falta de água em certas tabancas (aldeias), onde todas as pessoas de abastecem de um único poço", antecipa Rui Fonseca, razão pela qual estão também a ser estudados acordos para aprovisionamento de água.

Nas comunidades abrangidas, nas regiões de Oio, Bafatá e Gabú, no interior do país, as hortas escolares conseguiram produzir 60 toneladas de legumes, 48 das quais foram consumidas por alunos.

A formação realizada permitiu ainda que 221 técnicos de saúde estejam hoje "preparados para a prevenção e gestão eficaz da desnutrição infantil", destaca o relatório.

O programa de "Abordagem Multissectorial à Desnutrição Infantil" terminou em junho de 2013 e envolveu os ministérios da Saúde, da Agricultura, da Educação e a Caritas.

O projeto foi dinamizado por várias agências: a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Programa Alimentar Mundial (PAM) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

No total, foram investidos 1,8 milhões de euros atribuídos pelo fundo de cooperação internacional para cumprimento dos Objetivos do Milénio (MDG-F).

Agência Lusa

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