domingo, 25 de junho de 2017

Presidente do PAIGC diz que convenção definiu plano para Estado de Direito democrático

25 Junho 2017

O presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, disse, hoje (24), que com a Convenção Nacional do partido foi definido um plano para um Estado de Direito democrático.

Guiné-Bissau: Presidente do PAIGC diz que convenção definiu plano para Estado de Direito democrático
«Nós daqui saímos com um plano e delineamos os nossos passos futuros para combater a corrupção e impormos disciplina como mecanismo único para que o bem comum prevaleça, a justiça impere e possamos edificar um Estado de Direito democrático, que o nosso povo há muito aspira e a que temos direito como todos os outros povos do mundo», afirmou à Lusa.
Domingos Simões Pereira falava durante o discurso de encerramento da primeira Convenção Nacional do PAIGC, que decorreu entre quinta-feira e este Domingo, em Bissau, na sede do partido, dedicada ao tema «Pensar, para melhor agir», inspirado num livro de Amílcar Cabral, que reúne intervenções num seminário de quadros de 1969 do fundador do partido.
«As recomendações incidem sobre a necessidade de se definir estratégias para assegurar o retorno do partido às suas linhas programáticas, aos seus valores e princípios ideológicos e o afastamento progressivo da linha de conduta que tem prosperado no nosso seio, tais como a erosão de valores, o afastamento dos princípios ideológicos e a instauração da indisciplina», disse.
Segundo a Lusa, em relação aos temas como a revisão da Constituição e da lei eleitoral, Domingos Simões Pereira explicou que o «partido tem agora uma posição clara e vincada sobre as linhas gerais que devem nortear» as reformas do quadro político institucional.
Crise e apelo ao Presidente
No discurso, Domingos Simões Pereira reafirmou necessidade de o Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, se «conformar à Constituição» ou «aplicar o Acordo de Conacri» e nomear primeiro-ministro Augusto Olivais.
«O Presidente da República não quer fazer nem uma coisa, nem outra, porque está refém de um grupo de pessoas que usurpara o poder e estão dispostas a tudo fazer, quiçá minar os fundamentos do Estado de Direito e da unidade nacional, para se manterem no poder sem qualquer legitimidade, pois nenhum desses atores políticos foi sufragado nas urnas para governar», salientou Domingos Simão Pereira citado pela agência portuguesa de notícias.
A primeira convenção nacional do PAIGC ocorreu num momento em que o país vive um impasse político há cerca de dois anos, com a paralisação do parlamento, na sequência da dissidência de mais de uma dezena de deputados deste partido.
O Governo do PAIGC saído das eleições de 2014 caiu na sequência da demissão de Domingos Simões Pereira do cargo de primeiro-ministro e desde então o país já teve cinco chefes de Governo, numa crise que está a ser mediada pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).Fonte: A Semana

terça-feira, 20 de junho de 2017

Comandante guineense "Manecas" dos Santos libertado depois de ouvido pelo Ministério Público

O veterano da luta armada da Guiné-Bissau 'Manecas' dos Santos saiu hoje em liberdade depois de ouvido pelo Ministério Público, em Bissau, com termo de identidade e residência, informou o seu advogado, Carlos Pinto Pereira.
"Neste momento, vai para casa e vamos aguardar", disse aos jornalistas Carlos Pinto Pereira.
O comandante guineense Manuel 'Manecas' dos Santos foi detido segunda-feira de manhã pela Polícia Judiciária na Guiné-Bissau.
O advogado explicou que 'Manecas' dos Santos foi "ouvido no âmbito de um novo processo por suspeita de simulação de crime com base na entrevista que deu ao Jornal de Notícias".
"Está com termo de identidade e residência" e manteve, segundo o advogado, as declarações já afirmadas ao Ministério Público.
O veterano da luta armada pela independência da Guiné-Bissau tinha sido ouvido, há cerca de um mês, pelo Ministério Público, na capital guineense, para esclarecer as suas declarações sobre a iminência de um golpe de Estado no país.
Na ocasião, acompanhado do advogado e de alguns militantes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), 'Manecas' dos Santos disse ter reafirmado perante os magistrados o que é "apenas uma opinião".
"O meu depoimento correu muito bem, eu reafirmei aquilo que tinha a reafirmar. Acabou aí", afirmou na altura 'Manecas' dos Santos, que enalteceu a postura dos magistrados que o ouviram.
Em entrevista ao jornal português Diário de Noticias, no passado mês de abril, 'Manecas' dos Santos defendeu ser possível vir a acontecer um novo golpe militar na Guiné-Bissau devido à situação de impasse político que se vive no país há cerca de dois anos.

Prisão de “Manecas” é "deplorável" e mostra "medo" do poder guineense

Detenção de Manuel dos Santos ("Manecas") é "deplorável" e demonstra receio que o poder político da Guiné-Bissau tem "até da própria sombra", afirma escritor e jornalista Tony Tcheka.

Manuel dos Santos (Manecas), Mitglied der PAIGC (casacomum.org/Documentos Amílcar Cabral)
Foto de arquivo: Manuel dos Santos "Manecas" ao lado de Amílcar Cabral (esq.) (1972)
"A detenção de Manecas Santos é deplorável e motivo de uma enorme indignação. Nenhum cidadão guineense, independentemente das suas razões e questões ideológicas, pode estar tranquilo com uma atitude dessa natureza", sublinhou à agência de notícias Lusa o também vice-presidente da Associação de Escritores da Guiné-Bissau (AEGB).
A detenção na segunda-feira (19.06.) de "Manecas" Santos surgiu na sequência de uma entrevista dada em abril ao jornal português Diário de Notícias, em que o veterano comandante, de naturalidade cabo-verdiana, alertou para a possibilidade, face ao impasse político vigente há cerca de dois anos, de um novo golpe militar na Guiné-Bissau.
O veterano da luta armada pela independência da Guiné-Bissau tinha sido ouvido, há cerca de um mês, pelo Ministério Público, em Bissau, para esclarecer as declarações.
Motivações políticas?
Questionado esta terça-feira (20.06.) pela Lusa, Tony Tcheka, afirmou não ver qualquer outra razão para a detenção de "Manecas" Santos que não "motivações políticas".
Buch über Guinea-Bissau Krise (DW/M. Ribeiro)
Tony Tcheka
"Trata-se de uma perseguição feita em lume brando, hoje isto, amanhã aquilo. Qual o mal que tem um homem que, com o passado de Manecas Santos, vivendo na Guiné-Bissau, faça uma análise da situação social e política", questionou.
"O grande crime de 'Manecas' Santos é que as circunstâncias, tudo o que envolve a Guiné-Bissau de hoje, pode indiciar situações mais complicadas, entre elas a possibilidade de um golpe de Estado. Temos um passado recente complexo, sabemos como foi o conflito político-militar de 1998/99, como aconteceu, Manecas Santos estava presente no terreno, de maneira que nada melhor do que alertar", acrescentou.
Tony Tcheka salientou, por outro lado, a ideia de que quem pretende levar a cabo um golpe de Estado não o anuncia.
"Quem vai dar um golpe de Estado, quem está alinhado em golpes de Estado, não ameaça nem diz que vai fazer um golpe de Estado. 'Manecas' não disse que vai dar, ou que vai participar ou que faz a apologia do Golpe de Estado. Simplesmente disse que o cenário existente pode conduzir a uma situação de golpe de Estado", explicou.
Guiné-Bissau sob a batuta de Jomav
Para o jornalista, escritor e poeta guineense, os "atuais senhores" da Guiné-Bissau "acabam por ter medo de tudo e todos, até da própria sombra".
Guinea-Bissau Jose Mario Vaz (Getty Images/AFP/Seyllou)
José Mário Vaz, Presidente da Guiné-Bissau
"Têm tudo o que é poder, o que são forças da Nação, ao seu serviço, não em defesa da Constituição da República, não em defesa das leis, mas sim em defesa dos seus próprios interesses. Quem não alinha nesse festim, quem não bate palmas, automaticamente é eleito como inimigo a abater, a eliminar".
"Isso é deplorável, é lamentável, e mostra exatamente os caminhos por que a Guiné-Bissau está a seguir sob a batuta do Presidente da República", José Mário Vaz, concluiu.
PAICV apela à libertação "imediata e incondicional" de 'Manecas'
O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) apelou esta terça-feira (20.06.) à libertação "imediata e incondicional" de 'Manecas' Santos, classificando a sua detenção como um "ato inqualificável" e "injustificado" que configura "violação dos direitos humanos".
Kapverdische Inseln Unterstützer PAICV mit Fahnen (picture-alliance/dpa/M. Cruz)
"A detenção do comandante 'Manecas' Santos, uma figura carismática da luta de libertação nacional de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, é um ato inqualificável, que demonstra uma grande falta de respeito e uma vã tentativa de humilhar um alto dirigente do PAIGC", considerou o PAICV em comunicado.
Para o PAICV, mandar deter 'Manecas' Santos, por "ter emitido uma opinião, enquanto cidadão, e numa sociedade que se diz livre, democrática e pluralista, consubstancia um ato injustificável e com laivos de autoritarismo, e constitui, ademais, uma grave violação dos direitos humanos".
Por isso, os responsáveis do partido cabo-verdiano condenam o que consideram uma "detenção ilegal", solidarizam-se com 'Manecas' Santos e apelam "à sua libertação imediata e incondicional". 

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Incerteza e preocupação na Guiné-Bissau perante ameaça de sanções

Aumenta a pressão para que o Presidente guineense, José Mário Vaz, cumpra as exigências da CEDEAO e nomeie um novo primeiro-ministro, como ficou acordo entre os atores políticos. Ultimato termina já amanhã.


Guineenses saíram à rua em Bissau, em março, para pedir a demissão do Presidente
Nas ruas de Bissau, todas as conversas giram à volta da incerteza e do medo perante o futuro imediato. Já amanhã, quinta-feira (25.05), chega ao fim o prazo dado pela Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) às autoridades guineenses, nomeadamente ao Presidente do país José Mário Vaz, para que seja nomeado um novo primeiro-ministro.
Como forma de pressionar o actual regime a cumprir o Acordo de Conacri, documento patrocinado pela organização sub-regional prevê a nomeação de um novo Governo na base de consenso de todos os partidos representados no Parlamento, a comunidade ameaça aplicar sanções que podem passar pelo congelamento de bens e proibição de viagens, entre outras medidas.
Jovens guineenses ouvidos pela DW África mostram-se bastante preocupados com a aplicação de sanções. "A situação é muito preocupante na medida em que irão limitar as acções das figuras com a responsabilidade de governar o país", afirma o líder juvenil Guerry Gomes. O jovem também lamenta o impacto directo que as sanções terão na vida das populações. "Os políticos devem começar a olhar para as necessidades do povo para pôr fim à crise", apela.
Tensão social e política aumenta

O facto de José Mário Vaz se ter recusado categoricamente cumprir o acordo assinado pelas autoridades políticas para a acabar com a crise aumenta a tensão social e política, afirma Silvestre Alves. "Há que pôr combro à situação", sublinha o jurista e líder partidário, que entende que o Presidente guineense ainda vai a tempo de voltar atrás e respeitar as leis e acordos assinados para a saída da crise.

Incerteza e preocupação na Guiné-Bissau perante ameaça de sanções

"A situação pode acabar por descambar porque teremos forças internas a querer promover manifestações e com o todo direito", alerta Silvestre Alves. "E se o aparelho do poder continuar a reagir da mesma maneira, poderá provocar situações complicadas", acrescenta.
José Mário Vaz já avisou a comunidade internacionalque a Guiné-Bissau é um Estado soberano, pelo que serão os guineenses a decidirem o que querem. Silvestre Alves lembra que foi o próprio chefe de Estado quem solicitou a mediação internacional da crise.
"Um soberano que vai pedir a mediação internacional até que ponto é soberano? O que há é um Presidente que está a arrastar a soberania de um país na lama", conclui o jurista. O político também não tem dúvidas que o José Mário Vaz será um dos principais visados no capítulo das sanções.
Outro jurista, que pediu o anonimato, afirma que não se pode pensar em momento algum que o chefe de Estado seja sancionado. O jurista próximo do regime lembra que o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) não cumpriu um dos pontos do acordo que previa a reintegração do grupo dos 15 deputados expulsos do partido.

Papel da CEDEAO

Para Fodé Mané, professor da Faculdade de Direito de Bissau, o prazo de 25 de maio para cumprir o ultimato não é determinante.  "Perante esta situação o prazo já não conta. A CEDEAO deve pensar na sua determinação de sancionar ou não. Se sancionar veremos a sua eficácia e se não o fizer sai fragilizada", afirma.

O Comité de Sanções das Nações Unidas visita o país a 12 de junho para consultas com as autoridades guineenses. A missão deveria deslocar-se a Bissau em julho, mas tendo em conta os últimos desenvolvimentos relativamente à crise política decidiu antecipar a viagem para junho, indicou fonte da ONU.

Fonte :DW

domingo, 29 de janeiro de 2017

Operadores portugueses lançam Guiné e Bijagós como destino de férias em 2017


VIDA SELVAGEM. Assistir à desova das tartarugas na ilha de Poilão é uma das experiências que os turistas podem ter nos Bijagós
D.R.

Os pacotes para a Guiné-Bissau serão lançados até à BTL, feira do turismo de Lisboa, como resultado da primeira viagem de reconhecimento do destino que envolveu a maioria dos produtores de viagens

, literalmente, uma descoberta para os operadores turísticos portugueses. A primeira 'fam trip' à Guiné-Bissau de 'construtores' de programas de viagens promovida pela Euroatlantic de 6 a 11 de janeiro — onde participaram a Abreu, Solférias, Soltrópico, Sonhando, Clube Viajar, You e Across, que representam 80% da operação turística nacional — irá resultar na criação de pacotes de férias, de uma semana a 10 dias, a lançar já na próxima BTL (Bolsa de Turismo de Lisboa), a feira que decorre na FIL de 15 a 19 de março e que é a principal montra do turismo português.
Para os operadores turísticos, a 'pérola' deste destino novo são os Bijagós, arquipélago com 88 ilhas ao largo da Guiné-Bissau e que é um santuário natural (tem os únicos hipopótamos marinhos do planeta, entre uma grande diversidade de vida animal, como tartarugas ou chimpanzés).
"O nosso objetivo é fazer um turismo de qualidade e controlado tendo em conta o ecossistema que existe em Bijagós, cujo potencial é muito aprazível para o turismo que o mundo hoje procura", salientou Fernando Vaz, ministro do turismo da Guiné-Bissau ao receber os operadores turísticos, a quem fez o apelo de criar um produto de férias "para que os portugueses também venham à Guiné onde vão sentir-se em casa, e não só ao Algarve".
O ministro guineense frisou ainda que "o nosso turismo ainda é incipiente, recebemos 30 mil turistas por ano, e queremos aprender com Portugal. Se Cabo Verde conseguiu tornar-se um destino reconhecido nós também vamos conseguir".
MAR DE ILHAS. O arquipélago de Bijagós, ao largo da Guiné, integra 88 ilhas em estado natural, o que é considerado um paraíso para eco-turismo
MAR DE ILHAS. O arquipélago de Bijagós, ao largo da Guiné, integra 88 ilhas em estado natural, o que é considerado um paraíso para eco-turismo
D.R.
Para a Abreu Viagens, a Guiné tem todas as condições para "funcionar como um destino novo" de lazer, quando até à data era "desconhecido" dos turistas portugueses, conforme destaca Leonor Ramos, gestora do produto África do operador turístico, que participou nesta viagem de reconhecimento à Guiné-Bissau.
Tirando partido dos atuais quatro voos diretos por semana que ligam Portugal à Guiné (dois da TAP e dois da Euroatlantic), a perspetiva da Abreu é lançar a curto prazo programas de viagens de 5 a 7 dias, "focados no arquipélago de Bijagós mas sem deixar Bissau de fora, pois os portugueses têm uma ligação grande à cidade", adianta Leonor Ramos. Na sua perspetiva, o perfil do cliente-alvo para o destino Guiné é sobretudo o "passageiro que já bateu outros destinos ao nível de África, como São Tomé". Mas a gestora de programas da Abreu frisa que neste destino "está tudo ainda muito verde e tem de haver promoção do país, o que não passa só pelos operadores turísticos, é essencial que o Governo guineense assuma aqui o seu papel".
NA ROTA DO HIPOPÓTAMO. Os Bijagós têm a única colónia de hipopótamos marinhos no mundo, havendo programas especiais para os avistar
NA ROTA DO HIPOPÓTAMO. Os Bijagós têm a única colónia de hipopótamos marinhos no mundo, havendo programas especiais para os avistar
D.R.
O mesmo objetivo é partilhado pela Solférias. "Faz todo o sentido incluir a Guiné-Bissau na nossa programação pois África é uma das principais apostas da Solférias", salienta Cláudia Martins, gestora de produto deste operador turístico. "Estamos a trabalhar já na programação de verão, válida de maio a final de outubro, e nesta altura do campeonato o que vamos fazer é lançar de imediato uma brochura com um combinado entre Bissau e Bijagós para pôr à venda já em fevereiro, e seguramente antes da BTL."
Do que viu na viagem de reconhecimento à Guiné-Bissau, a operadora da Solférias adianta que o objetivo é "lançar programas de uma semana, incluindo cinco noites em Bijagós e uma em Bissau" e também "conseguir pacotes a preços abaixo dos 2 mil euros", dependendo das tarifas a negociar com as companhias aéreas.
"Vai ser um complemento muito interessante para a nossa programação", prevê Cláudia Martins, sustentando que a Guiné pode funcionar como destino "que complementa a nossa oferta 'charter' para Cabo Verde, embora dirigindo-se a um mercado diferente, que não é do 'tudo incluído', mas sobretudo clientes que procuram outro tipo de experiências. Cada vez há mais pessoas a necessitar do contacto com a natureza, do desligar dos telemóveis, e destinos como este são cada vez mais procurados".
ECOSSISTEMA. O Turismo da Guiné-Bissau diz-se empenhado em "desenvolver um destino controlado e não massificado nos Bijagós"
ECOSSISTEMA. O Turismo da Guiné-Bissau diz-se empenhado em "desenvolver um destino controlado e não massificado nos Bijagós"
D.R.
Segundo a gestora da Solférias, "acreditamos que não será um destino de grande volume, mas nesta fase não queremos deixar de ajudar a Guiné-Bissau com tudo o que estiver ao nosso alcance". Salienta que "estão reunidas as condições" para se lançar este destino novo em Portugal, mas sublinha que há ainda "um longo caminho para a Guiné fazer, com todas as notícias negativas que têm saído sobre o país".

"UM PARAÍSO DESCONHECIDO PARA A MAIORIA DOS PORTUGUESES"

Lara Reis, gestora de produto da Soltrópico, também considera que o destino "tem muito potencial e o produto pode ter muita saída em Portugal, mas é preciso mudar a visão que os portugueses têm da Guiné-Bissau". Sustenta que este "pode vir a ser um produto Soltrópico", mas ressalva que terá de ser ainda sujeito à análise do operador turístico relativamente à programação para 2017. Na sua opinião, "de início, e para não correr muito risco, podíamos começar com um pacote mais pequeno, de cinco noites, com Bissau e Bijagós, um paraíso ainda desconhecido para a maioria dos portugueses e que poderá ser um próximo destino a estar em voga".
Segundo a criadora de pacotes de férias da Soltrópico, "mais tarde poderíamos fazer uma identificação de pontos interessantes no país com vista a programas associados a turismo de saudade e às memórias coloniais, pois há uma grande comunidade de portugueses que estiveram na Guiné-Bissau e podem ter interesse em voltar ao país e matar saudades". Frisando que "o que procuramos na Guiné não é um turismo de massas", Lara Reis refere que no início desta operação "os preços terão de ser bastante interessantes, em comparação com outros destinos como São Tomé ou Senegal".
No caso do operador turístico You, a previsão também passa por lançar programas a curto prazo. "Nós já tínhamos pensado fazer alguma coisa na Guiné-Bissau", salienta Elisabete Augusto, diretora de operações da You, para quem a recente visita de reconhecimento ao destino tornou "o produto mais fácil de trabalhar".
TURISMO DE SAUDADE As memórias coloniais são visíveis na antiga messe dos oficiais em Bissau, que deu lugar ao Hotel Azalai
TURISMO DE SAUDADE As memórias coloniais são visíveis na antiga messe dos oficiais em Bissau, que deu lugar ao Hotel Azalai
Para lançar o destino Guiné, o objetivo da You passa por "publicar circuitos de uma semana a 10 dias, com quatro a cinco noites para ir à praia, e vamos de certeza incluir Bijagós", refere Elisabete Augusto, adiantando que os programas terão um alcance mais vasto. "A nossa ideia é também montar um 'tour' pelo interior da Guiné, passando por cidades como Bafatá ou Gabu, além de Bissau, a pensar nos antigos militares que querem visitar os lugares onde estiveram durante a guerra colonial". Como frisa a diretora de operações da You, "vamos trabalhar para que as pessoas em Portugal possam vir conhecer a Guiné".
Tendo já algum tráfego para a Guiné, organizando viagens associadas a ações humanitárias, também o Clube Viajar, cujo operador é o Viajar Tours, tem a perspetiva de começar a lançar pacotes com Bissau e Bijagós. “O arquipélago dos Bijagós é um paraíso natural e apenas a quatro horas de distância de Portugal”, faz notar Manuela Varanda, agente de viagens do Clube Viajar, frisando que, face ao potencial da Guiné ao nível de programas de lazer, o destino merece começar a ser explorado. “E esta viagem de reconhecimento demonstrou tratar-se de um destino tranquilo, genuíno e com um povo muito gentil, além de ter boa comida.”

LANÇAR UM MANUAL DE VENDA PARA OS AGENTES DE VIAGENS

Para o operador Sonhando, a 'fam trip' à Guiné-Bissau foi “um sucesso”, e também "um verdadeiro derrubar de preconceitos, pois apesar da instabilidade política do país encontrámos um ambiente pacífico e seguro", salienta Mariana Correia, gestora de reservas da Sonhando. Destaca ainda as "paisagens deslumbrantes como o arquipélago dos Bijagós, hotelaria diversificada e de qualidade, receptivos locais com produtos bem trabalhados e prontos a receber o turista português".
ENERGIA AFRICANA. Os operadores também querem destacar a vertente cultural nos programas de viagens à Guiné
ENERGIA AFRICANA. Os operadores também querem destacar a vertente cultural nos programas de viagens à Guiné
D.R.
Segundo Mariana Correia, "a Sonhando tudo fará para divulgar e colocar a Guiné-Bissau como um dos destinos de eleição dos portugueses", através da criação de pacotes de 5 a 7 noites, que serão lançados ainda antes da BTL. "Vamos apostar em programas de lazer, e também de turismo de saudade associados ao regresso de ex-combatentes, além caça/pesca ou negócios", adianta.
A operadora da Sonhando adianta que "a nossa intenção é fazer um manual de vendas para os agentes de viagens em Portugal, pois sabemos que apesar de uma língua que nos une, existe um profundo desconhecimento da Guiné Bissau enquanto destino turístico com enorme potencial".
Apesar de ser mais especializada em safaris, e tendo o foco em África, também a Across prevê começar a incluir a Guiné na sua programação já em 2017.
"Esta viagem deu-nos a mostrar a verdadeira imagem da Guiné", sustenta Reno Maurício, diretor-geral da Across, frisando que o seu interesse está em "destinos com uma relação forte com Portugal, locais que não tenham só animais mas também história, algo com que o cliente português se possa relacionar".
Segundo o diretor-geral da Across, "vamos já lançar três programas para a Guiné-Bissau, com vertente cultural, de vida selvagem e de praias", e a curto prazo sairão as respetivas brochuras para venda nas agências de viagens. "Vamos aproveitar os voos da Euroatlantic para vender uma série de experiências", que irão resultar em combinados de Bissau com Bijagós e com locais para safaris, além de "programas à medida na área de turismo de saudade, em que queremos levar pequenos grupos de umas 18 pessoas, pois este é um mercado forte na Guiné".
A nível de preços, Reno Maurício avisa que "não vamos ser os mais baratos do mercado, pois a nossa guerra não é a dos preços". Na Across o preço dos programas para este destino vai depender de uma série de opções disponíveis. "Na Guiné estamos a falar de um produto que pode ir de pouco mais de mil euros até três mil euros", avança.
LUXO NOS BIJAGÓS A francesa Solange Morin, proprietária do Ponta Anchaca na ilha de Rubane, assegura o transporte dos turistas ao seu hotel em avião privado
LUXO NOS BIJAGÓS A francesa Solange Morin, proprietária do Ponta Anchaca na ilha de Rubane, assegura o transporte dos turistas ao seu hotel em avião privado
"Eu acho que vai haver uma grande dose de boa vontade dos operadores que aqui vieram no sentido de promover a Guiné-Bissau", sustenta o diretor-geral da Across.

A "NECESSIDADE DE RESPIRAR NATUREZA"

Para alojar os turistas nos Bijagós, a mira dos operadores está sobretudo no Ponta Anchaca, hotel da francesa Solange Morin na ilha de Rubane onde os quartos são 'tabankas' de madeira à beira do mar e entre palmeiras, exalando um ambiente de luxo natural.
"Quando aqui cheguei isto era selva virgem, não havia nada, nada, tive de fazer tudo do zero", diz Solange Morin, assumindo o seu "grão de loucura" ao ter vendido os seus hotéis no Senegal para criar uma unidade nos Bijagós. "Tinha necessidade de respirar natureza, não há outra sensação de paz e liberdade como há aqui", confessa.
É a mesma sensação que Solange Morin quer transmitir aos clientes do hotel. "Quando as pessoas querem ver as tartarugas ou os hipopótamos, nós podemos fazer isso", garante. O Ponta Anchaca conta com várias lanchas para passeios e também um avião privado em permanência para assegurar o transporte dos hóspedes de Bissau. "É um destino que ainda não é conhecido. As pessoas perguntam: onde ficam os Bijagós?", refere Solange Morin, que tem recebido sobretudo hóspedes franceses, belgas, ingleses ou italianos, "e espero que cada vez mais portugueses".
Além do Ponta Anchaca, são sobretudo os hotéis virados para a pesca, e também de proprietários franceses, que predominam nos Bijagós.
ACAMPAR NA PRAIA O Dakosta Island Beach Camp do guineense Adelino da Costa põe a tónica na cultura bijagó
ACAMPAR NA PRAIA O Dakosta Island Beach Camp do guineense Adelino da Costa põe a tónica na cultura bijagó
O destaque também vai para o Dakosta Island Beach Camp, do guineense Adelino da Costa, junto à praia de Bruce em Bubaque, onde parece que o tempo parou.
Além dos quartos em vivendas, o Dakosta Island tem também um espaço de tendas marcado por instalações artísticas associadas à cultura bijagó.
"Estamos num espaço protegido pela UNESCO, isto é um museu ao ar livre, é a pura natureza que está a faltar no mundo", faz notar Adelino da Costa, que trocou a vida nos Estados Unidos (onde é um lutador medalhado e tem uma rede de ginásios em Nova Iorque, com a marca 'Pump') para estar mais próximo do investimento turístico que quer reforçar na sua terra.
"A língua portuguesa está-se a perder aqui", considera Adelino da Costa, lembrando que o investimento turístico nos Bijagós está a ser feito sobretudo por franceses, e "há zero de portugueses". Como guineense, propõe-se aqui diferenciar pelo toque da cultura. "O atraso da Guiné pode tornar-se na sua principal vantagem, pois os Bijagós ainda estão em estado natural, nada foi estragado", salienta. "É um local para desligar o telemóvel e desligar de tudo. E isto para os turistas é o mesmo que lhes dar ouro."